E chegou o último dia do ano. Uma pergunta em um programa de TV me chamou a atenção: “E aí, está sofrendo de dezembrite?” A provocação é curiosa porque brinca com algo muito real: essa sensação de pressão, de que precisamos fazer tudo caber nesses últimos dias do ano, como se fosse um “mini juízo final”.
É verdade que o final do ano costuma ser um período de reflexão e balanço. Muitos aproveitam para revisitar as metas traçadas e avaliar os resultados alcançados. Embora esse hábito possa ser saudável, ele também traz o risco de gerar ansiedade e frustração, especialmente quando percebemos que nem tudo saiu como o esperado. Pensando nisso, vamos explorar como esses sentimentos podem impactar nossa saúde mental e refletir sobre como equilibrar o que idealizamos e o que é possível.
Avaliação da Lista de Planos: Entre o Concreto e o Idealizado
Revisitar os planos do ano pode ser um exercício interessante, mas muitas vezes acabamos comparando o que conseguimos realizar com aquilo que idealizamos. É como se estivéssemos constantemente medindo nosso valor pela régua de metas que nem sempre eram tão realistas desde o início.
Expectativas irreais podem nos levar a uma sensação de insuficiência. Essa autocrítica exagerada é um gatilho comum para a ansiedade. Quando olhamos só para o que “faltou fazer”, deixamos de reconhecer os passos dados, mesmo que pequenos.
Ao olhar para nossa lista de planos, é importante perguntar: "O que realmente importava para mim neste ano? Eu consegui avançar, mesmo que de forma diferente do que planejei?" Esses questionamentos podem ajudar a reduzir a ansiedade e a enxergar o progresso de forma mais gentil.
Frustração e Autoimagem: Um Ciclo Desafiador
A frustração aparece quando percebemos um espaço aparentemente intransponível entre o que desejamos e o que conseguimos. Esse sentimento pode ser intensificado no final do ano, quando redes sociais estão cheias de conquistas alheias, viagens e celebrações. Parece que todo mundo está vivendo um “ano perfeito”, menos nós.
Esse ciclo de comparação, autocrítica e ansiedade só aumenta se não olharmos para nossas conquistas de forma mais realista. A frustração faz parte da experiência humana, e, como dizem por aí, ela nos ajuda a “criar casca”. Não é sobre evitar a frustração, mas aprender com ela. Reconhecer nossos limites também é um ato de autocuidado e maturidade.
Final de Ano e Saúde Mental: Cultivando Perspectivas Realistas
O final do ano não precisa ser encarado como uma cobrança implacável. Ele pode ser um momento de celebração das pequenas vitórias e de reavaliação do que ainda faz sentido para o futuro. Nós, profissionais da área da saúde mental, destacamos que colocar o foco no processo, e não apenas nos resultados, é uma forma eficaz de reduzir a ansiedade.
Devemos lembrar que o conceito de “final de ano” é apenas uma convenção de calendário. Ele foi criado para nos ajudar a organizar o tempo, mas não define quem somos. Não é um ponto final na nossa trajetória. Continuamos sendo as mesmas pessoas, com nossas histórias, forças e desafios.
Podemos usar esse momento como um convite para refletir sobre o que realmente importa: o que nos traz bem-estar e contribui para os projetos de vida que desejamos construir. Encarar essa transição com leveza nos ajuda a manter o foco no que é essencial, sem nos deixarmos sobrecarregar por cobranças externas ou internas.
E assim, com gratidão pelo caminho percorrido e esperança pelo que está por vir, podemos nos despedir do ano com um sorriso e saudar o próximo com um sincero desejo: Feliz Ano Novo!
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